* Hertz Dias
Às
vezes é preciso apalpar o crânio de alguns jornalistas para saber se de fato
existe massa cefálica em suas cabeças. Esse é o caso de alguns profissionais
dessa área que atuam no Jornal Pequeno e de alguns blogueiros financiados pela
prefeitura de São Luís que, diante do crescimento da greve do SINDEDUCAÇÃO, se
lançam a ataques irracionais contra a categoria de professores do município de
São Luís.
Enquanto a Copa do Mundo e o período de férias ofuscavam a greve, esses
jornalistas sequer escreviam notinhas de rodapé sobre a mesma. Mas, depois da
realização da Marcha em Defesa da Educação Pública que contou com mais de 2.500
participantes entre professores, pais e mães de alunos; depois das assembleias
e plenárias lotadas e das panfletagens nos bairros de periferia e nos terminais
de integração, os ataques sucederam-se, tendo o Jornal Pequeno assumido o seu
posto de timoneiro. Sem medir palavras taxam desrespeitosamente os professores
em greve de “massa de manobra”.
O debate, a crítica política e diversidade de opiniões são de suma importância
em qualquer movimento grevista e o nosso não tem telhado de vidro. Mas, o que
chama a atenção desses senhores é o nível de mediocridade e a falta de
imparcialidade política na cobertura da greve do SINDEDUCAÇÃO. Quando falamos
de imparcialidade não queremos dizer neutralidade política, algo que não existe
em sociedades divididas em classes sociais. A imparcialidade, porém, advém de
um critério científico e não político.
Todos nós sabemos que o Jornal Pequeno há muito tempo se transformou em um
apêndice da política do prefeito Edvaldo Holanda Jr e do PC do B, assim como o
jornal O Estado do Maranhão serve aos interesses da família Sarney. Porém,
publicar matérias com argumentos fantasiosos para blindar o prefeito é no
mínimo querer atribuir aos leitores o mesmo nível de acefalia política que têm
seus jornalistas. Mas, há sim explicação cientifica e política para esse tipo
de postura.
A base psicológica desse tipo de indivíduo decorre do seu complexo de
inferioridade e da impotência que sentem em lutar contra as injustiças.
Enquanto os professores enfrentam os diretores de suas escolas, a aristocracia
da SEMED e o prefeito para melhorar suas condições laborais e salariais, o
jornalista medíocre e pequeno-burguês prefere bajular seus patrões para obter
dividendos salariais, por isso rechaça luta e criminaliza os que lutam.
Por não ter ultrapassado a fase infantil do conhecimento cientifico esse tipo
de profissional deduz que a vitória da nossa greve implicará em menos dinheiro
para o seu jornal, sendo a recíproca também verdadeira. O raciocínio desse tipo
de individuo está nos olhos, MEIO BILHÃO DE REAIS, e não na realidade concreta
da educação pública do município de São Luís. É sempre bom lembrar que cabos
eleitorais pagos não ficam apenas segurando bandeiras nas rotatórias, eles
também se escondem por trás das escrivaninhas climatizadas dos jornais de
grande circulação.
É dessa resignação irritante que nasce um jornalismo abstrato, estéril,
flutuante, sem qualquer base investigativa. A base política de quem tem
preguiça de raciocinar é o mais puro senso comum. Se não é isso, então o que
leva um jornalista em sua sã consciência a afirmar que o PSTU, partido que não
aceita dinheiro de empresários e governos, está financiado o principal
sindicato de funcionários públicos de São Luís? Ou mesmo a afirmação descabida
de que esse mesmo sindicato teria solicitado para um vereador um caixão para
fazer o enterro simbólico da gestão de Edvaldo Holanda Jr.? Será que o
SINDEDUCAÇÃO não tem recursos para comprar um simples caixão? Ora, de tão
infantil, um argumento dessa natureza seria facilmente desmontado por qualquer
adolescente do ensino fundamental.
O Jornal Pequeno, que durante décadas pousou de “oposição” em nosso estado, se
lança furiosamente contra mais de sete mil funcionários públicos do município
de São Luís para blindar um prefeito incompetente e um partido degenerado que
se especializou em atacar os trabalhadores, falamos do PCdoB que foi o
principal cabo eleitoral de Edvaldo Holanda Jr. e que, por isso mesmo, controla
a pasta da educação.
Quantas matérias esse jornal publicou relatando as nossas movimentações nesses
75 dias de greve? Quantas escolas caindo aos pedaços foram registradas por seus
fotógrafos? Quantos professores, dirigentes sindicais ou do Comando de Greve
foram entrevistados por seus jornalistas? Quantas vezes noticiaram que mais de
mil funcionários cooperado ficaram 20 meses sem receber seus vencimentos? Será
que não sabem que as escolas estão sem vigilantes, bebedouros, carteiras,
ventiladores e pátios? O problema é que para esse jornal a realidade não serve
como critério para a verdade e sim o mundo fantasioso que a prefeitura de São
Luís impõe que divulguem!
Sem nunca ter visitado às escolas julgam-se no direito de afirmar que 80% delas
estão funcionando normalmente (sic!). Mesmo sem greve isso não seria possível,
já que a maioria das escolas não tem condições de funcionar normalmente. Nem os
diários de classe, que é o básico do básico para que uma escola funcione
minimamente, nunca existiu na gestão de Edvaldo Holanda Jr!
O Jornal Pequeno e os blogueiros de plantão não têm coragem de discutir com a
população o documento assinado pela própria prefeitura em que afirmam
textualmente que a prioridade para 2014 é pagar a dívida de 580 milhões de
reais deixada pelo ex-prefeito João Castelo (PSDB), em detrimento do respeito à
Lei do Piso, do FUNDEB e das reformas das escolas. Será que a verba da Educação
(cerca de 530 milhões) vai servir para esse fim? João Castelo, que deveria está
preso e com seus bens confiscados, é candidato a deputado federal em aliança
com Flávio Dino (PC do B). Será que isso significa alguma coisa para esses
jornalistas? Da forma como se comportam, não conseguem se diferenciar em nada
do monolítico jornalismo controlado pela caquética oligarquia Sarney.
Apesar disso, queria deixar um desafio público a esses senhores. Visitem a
agenda de greve da categoria no site do SINDEDUCAÇÃO e tenham a hombridade de
abandonar suas escrivaninhas por algumas horas e aparecer em nossas atividades
para cobri-las, conhecendo seus méritos e defeitos, ou então apareçam nas
reuniões do Comando de Greve para que possamos travar um debate honesto sobre
educação pública, pois quem sabe assim vossas calúnias possam ganhar aparência
de que tem cunho investigativo.
Quanto aos colegas professores e professoras, fica aqui nosso apelo para se
manterem firmes na greve. Esses ataques expressam o desespero dos grupos que
gravitam em torno da gestão Holandinha e que querem de qualquer forma desviar
os recursos da educação para outros fins, já que não conseguem explicar para
onde está indo o montante de MEIO BILHÃO DE REAIS. Essa é a greve mais forte e
mais importante da categoria. Eu nunca participei de uma greve com um Comando
de Base tão dinâmico e unitário como esse que se formou no SINDEDUCAÇÃO, no que
pese os problemas que a direção do sindicato tem que resolver urgentemente.
Esse Comando construiu as possibilidades reais para uma vitória histórica da
categoria, mas tudo isso depende, fundamentalmente, do compromisso político que
cada um de nós deve assumir nesse momento.
*Hertz Dias é professor da Educação Básica do Maranhão, Militante da CSP-Conlutas e membro da Executiva Nacional da Secretaria de Negros e Negras do PSTU.